sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Alienista


Resumo do “O Alienista”
De: Machado de Assis

          O drama gira em torno de um médico psiquiatra que escolhe a pequena cidade de Itaguaí, no interior do Rio de Janeiro, para aplicar seus conhecimentos adquiridos na Europa, em cujas universidades reuniu vários títulos. Mesmo com a insistência do rei de Portugal para que atuasse na universidade de Coimbra ou mesmo em Lisboa, na corte, insistiu que seu destino era o Brasil. E veio.
          Intrigante é que Simão Bacamarte, o nome do protagonista, tem ampla aceitação do Estado, que delega a ele poderes, mesmo com as suas ações aparentemente disparatadas. Com pensamento fixo, Bacamarte instala se em Itaguaí determinado a criar um hospício, que fica conhecido como Casa Verde, pela cor da pintura do prédio. É nessas instalações que o alienista coloca em prática suas experiências de estudo sobre a mente humana, cujo funcionamento oscila, a seu ver, entre a razão e a loucura.
        Bacamarte tem 34 anos e é descrito como um ser de extrema frieza e que tudo o que vê, o faz com senso de análise. É esse tempero de personalidade, que adota uma metodologia de estudo um tanto confusa e com ar de contraditória, que o caracteriza como maluco, desequilibrado, falho, absurdo. Mesmo assim, ele exerce total domínio sobre os moradores de Itaguaí e especialmente sobre os administradores públicos, apesar de suas maluquices, justamente por ter todo o aparato e apoio oficial da monarquia de então, é nesse aspecto que alguns críticos atribuem à obra um toque de critica do autor de aspecto político e não meramente uma abordagem psicológica.
        A principio, Bacamarte encontra resistência da Câmara Municipal para liberar verba para a construção do hospício, mas o problema acaba por se resolver com a cobrança discreta de uma taxa em cada ritual funerário.
        A Casa Verde é inaugurada com festa e os primeiros internos restringem-se a casos típicos de loucura, o que não causou qualquer estranheza por parte da sociedade itaguaiense. A celeuma começa quando o alienista passa a escolher seus internos a partir de outro critério, que ele interpreta como anormal. As internações polemicas começam com uma personagem de nome Costa, que havia gasto todo o dinheiro de uma herança em empréstimos que acabaram se tornando fundo perdido. Costa carregava o drama de sentir vergonha de cobrar os credores e chegava até a ser maltratado por eles.
      A segunda “paciente” foi a prima de Costa, que foi ao hospício só para defender o parente, usando como argumento uma historia enfadonha, de que a situação do primo era decorrente de uma maldição. Após ouvir a historia, o celebre medico não hesita em internar a bem intencionada senhora porque, aos seus olhos, era uma mente que extrapolava totalmente os limites da razão. A população passa a ver o alienista como uma pessoa traiçoeira e autoritária, gerando uma enorme onde de terror e desconforto.
As internações descabidas não param por aí. Na seqüência, são internadas varias outras personagens consideradas em são juízo, a ponto de levar Itaguaí a uma situação de revolta. Entre eles estão Mateus, um fabricante de albardas, nome dado a selas para bestas de carga. O albardeiro foi internado pelo simples fato de ficar todo seu tempo livre admirando o luxo de sua enorme casa, especialmente quando percebia que estava sendo observado. A personagem foi criada por Machado de Assis por acaso, mas com o intuito de levar o leitor a refletir questões como a valorização excessiva do status e mesmo o preconceito, pois causava inveja aos moradores o fato de um homem de origem e trabalho humildes possuir riqueza.
As tais internações deixaram a população em pânico e ao mesmo tempo revoltada. O consolo era esperar pela volta da esposa de Simão Bacamarte, A. Evarista, uma jovem de 25 anos que já tinha ficado viúva antes de conhecer o alienista. Evarista tinha tinha ido passar um tempo no Rio de janeiro por sugestão do medico, como uma maneira de compensar sua ausência, que vivia absolutamente mergulhado nas experiências e estudos.
A relação desse casal é muito boa. Evarista é muito apaixonada pelo marido, mas um pouco introspecta. Ele, do intimo de sua frieza preferiu unir-se a uma mulher desprovida de beleza, considerando especialmente os aspectos práticos, como a saúde reprodutiva, ao mesmo tempo em que não se precisaria ficar se preocupando com uma mulher bonita. Os itaguaienses viam no retorno de D. Evarista à cidadezinha uma válvula de escape para se libertar do terror das internações e aparentemente arbitrarias do medico, o que explica a recepção calorosa dada à esposa do maluco.
Mas para provar que D. Evarista não representava nenhum motivo de desconcntração do seu trabalho, o autor trava aqui uma situação para lá de intrigante. Bacamarte não hesitou em internar Martim Brito, um jovem falantee exibicionista no trato com as pessoas, por ter feito um elogio um tanto exagerado à esposa. No meio de um jantar na casa do médico, disse ele que Deus queria superar a si mesmo quando criou D. Evarista. Três dias depois, o falante estava internado. Para o medico, tratava-se de um caso de lesão cerebral grave o comportamento do rapaz.
Não bastasse, ainda foram confinados Gil Bernardes, que adorava cumprimentar quem encontrava, inclusive crianças, de maneira extravagante, e Coelho, que falava tanto a ponto de as fugirem de perto dele.
A situação chegou a um ponto critico de indignação, causando agitação e grande descontentamento na população. Nesse cenário é que entra o barbeiro Porfírio, que há muito sonhava estar à frente de um cargo público administrativo, mas nunca havia conseguido. É ele quem toma a frente de um protesto com intenções revolucionárias. A ocorrência desse episodio na história reflete uma característica marcante de Machado de Assis, de trabalhar o dilema da realidade, fazendo-o, aqui, através de um interesse pessoal da personagem Porfírio, que tinha negócios importantes com Coelho e que, por causa da internação, tinham sido interrompidas. Além disso, havia o interesse do barbeiro pelo poder, todas as questões pessoais disfarçadas de preocupações altruístas.
Mas depois de ter seu requerimento (de fechamento e demolição da Casa Verde) desprezado pela Câmara de Vereadores, Porfírio une-se a vários outros descontentes. Os ânimos se desaquecem quando emerge a notícia de que Simão Bacamarte havia pedido para não mas receber pelos internos da Casa Verde, quando as opiniões passam a considerar a idéia de que as inúmeras reclusões não eram movidas por corruptos interesses econômicos.
Mesmo assim, Porfírio recobra a energia revolucionaria e apela para uma insurreição, que é batizada de Revolta dos Canjicas, devido ao apelido do barbeiro. Segue com a turba de itaguaiense até a casa do alienista, que os atende da sacada da casa e de forma equilibrada, sem a mínima disposição em se demover de sua metodologia cientifica. A frieza típica do medico ameniza por um pouco tempo a fúria dos reclamantes, mas é novamente levantada por Porfírio quando o alienista os deixa e simplesmente retorna aos seus estudos. È nesse momento que surgem os dragões, a policia da época, com o intuito de abafar a manifestação. Mas, para surpresa, quando o jogo parecia perdido para pórfiro, a situação volta a ficar favorável a ele. Os componentes da guarda, provavelmente enxergando injustiça na ditadura cientifica, passam para o lado dos revoltosos. Era tudo o que o líder mais queria, ou seja, poder absoluto.
Sentindo o próprio líder, o barbeiro subitamente esquece a Casa Verde e se dirige para a Câmara dos Vereadores, resolvido a destituí-la. Auto-empossado no cargo de presidente, no dia seguinte volta à casa do alienista, que já esperava, sempre do alto de sua frieza, ser demitido do cargo. Mas qual não é a mudança de opinião de Porfírio, que sugere apoio à causa do medico e afirma que não é sua intenção envolver-se com questões cientificas.
Paralela a critica do autor ao uso de causas coletivas para alcançar objetivos particulares, soma-se também, nesse tópico, nova critica, desta vez tantas revoluções que ocorreram na Historia e que ainda poderão ocorrer. A idéia é de que são realmente impulsionadas por interesses coletivos autênticos, mas acabam subam sendo manipuladas e servindo de trampolim para que as pessoas subam ao poder por motivos egoístas.
O comportamento de Porfírio era indisfarçadamente politiqueiros e o médico não deve ter ficado alheio a isso ante a postura do barbeiro, de ir oferecer-lhe apoio em seu trabalho até há pouco tempo repudiado. Tanto é que chega a perguntar a ele quantas pessoas morreram no levante.
São dois fatores que o médico analisa dentro de suas perspectivas de estudo: o caso da morte de 11 pessoas por um movimento que tinha a intenção de derrubar a Casa Verde e agora tudo ficar esquecido. E também o fato de Porfírio antes de ter se posicionado radicalmente contra Simão e agora considerá-lo de extrema utilidade para seu novo governo.
Depois de muito matutar em seus estudos, em poucos dias o médico decide pelo confinamento de 50 apoiadores da Revolta das Canjicas. Porfírio sente seu mundo desabar com suas ambições, especialmente quando um opositor seu, o também barbeiro João Pina, resolve afrontá-lo numa contra revolução. Os motivos de João Pina era rixa pessoal com o Canjica, diferentes de questões sociais. A verdade é que o opositor acaba por derrubar o concorrente de navalha.
     Mesmo assim, a Casa Verde continua em pé e ainda mais forte. Mais gente é confinada, inclusive Crispim, assistente e bajulador de Simão, que apoiou Porfírio quando pensou que o alienista havia caído, e o presidente da Câmara dos Vereadores, que tinha considerado pouco o número de mortos no levante, que se encarregara de comunicar ao alienista o feito pelo político líder.
   O quê da apontada loucura do médico chegou ao ápice quando decidiu internar a própria esposa, que andava exageradamente preocupada com jóias e vestidos desde que tinha voltado do Rio de Janeiro. Na noite anterior, D. Evarista nem conseguira dormi, de tão indecisa se encontrava com o vestir para ir a uma festa. Ao mesmo tempo que era a prova de que Bacamarte não tinha intenções egoísta, pois até a própria mulher tinha se tornado vítima, fortalecida a idéia da arbitrariedade a que Itaguaí estava submetida.
    Pouco tempo depois, sem mais nem menos, a cidade recebe a notícia de que todos os ‘’loucos’’ da Casa Verde seriam soltos, por determinação do médico. Houve festa e comemorações, mas na realidade, o que havia acontecido é que o cientista caíra em si de que sua metodologia continha falhas, pois estatisticamente carecia de revisão, visto que 75% dos moradores da cidade estavam confinados.
       A decisão do médico não tinha nada de política ou de ambiciosa. Simplesmente era um profissional que sabia reconhecer seus erros e estava pronto a consertá-los, dando ao leitor mais subsídios para melhor interpretar o episódio. Mas não deixa de jogar no ar uma série de indagações, como a identificação dos padrões de normalidade, seguindo-se aí uma linha de raciocínio interessante: se 75% apresentam desvios de personalidade, desvios do patrão, considerando ser essa regra que determinava quem era e quem não era são, então o normal seria não seguir um padrão. Além disso, politicamente falando agora, o autor deixa claro a força que o Estado, por meio da Casa Verde – tanto é que mudavam os poderosos, mas o sistema continuava o mesmo -, assumia em determinar quem estava na linha e quem não estava. Todos tinham de se encaixar em uma norma.
    Os moradores, entretanto, não sabiam do reverso que q teoria de Bacamarte assumia agora, ou seja, era louco quem mantinha regularidade, firmeza de caráter, visto que o padrão verificado anteriormente era o de discordar. Assim, o terror recomeça com a internação da primeira vítima, o vereador Galvão. Ele tinha protestado contra uma emenda da Câmara que, na retomada ao poder dos antigos políticos, instituía que apenas os vereadores é que não poderiam ser reclusos, sob a alegação de que os vereadores não podiam legislar em sua causa própria.
Na seqüência, são levados para o hospício a esposa dedicada de Crispim, a de Porfírio (que ousara defender o sossego público e se manter quieto em sua barbearia quando foi novamente chamado para liderar outra revolução); até mesmo um inimigo de Bacamarte, que se vira na obrigação de avisar o médico que este corria risco de vida.
A experiência alarmante do alienista segue com conclusões intrigantes. Eram consideradas curadas pessoas que exibiam algum desvio de caráter, quando antes demonstravam firmeza de personalidade. Um exemplo foi de um advogado honesto e justo que, para fugir à internação, havia forjado a partilha de um testamento a seu bel-prazer. O mesmo ocorreu com a esposa de Crispim que, apesar de ter sido confinada, manifesta-se contra o marido ao perceber seus defeitos de caráter.
Assim, pouco a pouco, o alienista liberou todos os “ loucos “ da Casa Verde, mas questionado no seu intimo a falha do seu segundo método. As conclusões a que começava chegar eram de que ninguém tem uma personalidade perfeita, sem defeitos, sem uma sombra de desvio moral sequer. Ao mesmo tempo, percebeu que ele próprio era exceção nessa analise, pois reunia adjetivos da moralidade que ninguém ousava discordar, haja vista a comprovação de fiéis amigos, que foram consultados em seguida, para ajudá-lo na sua conclusão. Diante disso, conclui, então, que o único anormal nessa história toda era ele mesmo.
É assim que o ilustre médico Simão Bacamarte decide trancafiar-se na Casa Verde, ignorando os protestos de amigos e admiradores, inclusive os prantos da esposa Evarista. Tranca-se sozinho na Casa Verde, entre estudos e experimento, até a sua morte.

Aluna: Rayane Alves Parreira                      Nº: 37                   Turma: 2006

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