quarta-feira, 29 de junho de 2011

Peças Teatrais : Comparações

Romeu e Julieta (Shakespeare)

ROMEU - (a Julieta) - Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio,

peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.

JULIETA - Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos

pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.

ROMEU - Os santos e os devotos não têm boca?

JULIETA - Sim, peregrino, só para orações.

ROMEU - Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.

JULIETA - Sem se mexer, o santo exalça o voto.

ROMEU - Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.

(Beija-a.)

JULIETA - Que passaram, assim, para meus lábios.

ROMEU - Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.

JULIETA - Beijais tal qual os sábios.

AMA - Vossa mãe quer falar-vos, senhorita.

ROMEU - Quem é a mãe dela?

AMA -.Ora essa, cavalheiro! A dona desta casa, certamente, uma digna senhora, honesta e sábia.

Amamentei-lhe a filha, a senhorita com que falastes. E uma coisa eu digo, com certeza: quem vier a

desposá-la, ficará cheio de ouro.

ROMEU - É Capuleto? Oh conta cara! Minha vida é dívida de hoje em diante no livro do inimigo.

BENVÓLIO - A festa já acabou; vamos embora.

ROMEU - Acabou? Para mim começa agora.

CAPULETO - Não, cavalheiros, não saiais tão cedo; ainda teremos uma ceiazinha. Mas partis mesmo? A

todos, obrigado. Muito obrigado, honesto cavalheiro. Boa noite. - Trazei-me aqui mais tochas! Sendo

assim, vou deitar-me. É certo, amigo: já está ficando tarde. Vou deitar-me.

(Saem todos, com exceção de Julieta e a ama.)

JULIETA - Ama, quem é aquele gentil-homem?

AMA - Herdeiro e filho de Tibério, o velho.

JULIETA - E aquele que ora passa pela porta?

AMA - Se não me engano, é o filho de Petrucchio.

JULIETA - E aquele que ali vai, que não dançou?

AMA - Não sei quem seja.

JULIETA - Então vai perguntar-lhe como se chama. Vai! Se for casado, um túmulo será todo o meu

fardo.

AMA - Romeu é o nome dele; é um dos Montecchios, filho único do vosso grande inimigo.

JULIETA - Como do amor a inimizade me arde! Desconhecido e asnado muito tarde. Como esse

monstro, o amor, brinca comigo: apaixonada ver-me do inimigo!

AMA - Como assim? Como assim?

JULIETA - Isso é uma rima que aprender fui com quem dancei há pouco.

AMA - Já vamos! Um momento! - Está na hora; já se foram os hóspedes embora.

Num lugar de La Mancha, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor. Passadio, olha seu tanto mais de vaca do que de carneiro, as mais das ceias restos de carne picados com sua cebola e vinagre, aos sábados outros sobejos ainda somemos, lentilha às sextas - feiras. Algum pombo de crescença aos domingos, consumiam três quartos do seu haver. O remanescente, levavam-no saio de velarte, calças de veludo para as festas, com seus pantufos do mesmo; e para os dias de semana o seu vellorí do mais fino. Tinha em casa uma ama que passava dos quarenta, uma sobrinha que não chegava aos vinte, e um moço que da poisada e de porta afora, tanto para o trato do rocim, como para o da fazenda. Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo de caça. É pois de saber que este fidalgo, nos intervalos que tinha de ócio (que eram os mais do ano), se dava a ler livros de cavalarias, com tanta afeição e gosto, que se esqueceu quase de todo do exercício de caça, e até da administração dos seus bens; e a tanto chegou a sua curiosidade e desatino neste ponto, que vendeu muitos trechos de terra de semeadura para comprar livros de cavalaria que ler, com o que juntou em casa quantos pôde apanhar daquele género. Com estas razões perdia o pobre cavaleiro o juízo, e desvelava-se por entendê-las, e desentranhar-lhes o sentido, que nem o próprio Aristóteles o lograria, ainda que só para isso ressuscitara. Não se entendia lá muito bem com as feridas que Dom Belianis dava e recebia, por imaginar que, por grandes facultativos que o tivessem curado, não deixaria de ter o rosto e todo o corpo cheio de cicatrizes e costuras. Porém, contudo louvava no autor aquele acabar o seu livro com a promessa daquela inigualável aventura, e muitas vezes lhe veio o desejo de pegar na pena, e finalizar ele a coisa ao pé da letra, como ali se promete; e se dúvida alguma o fizera, e até o sacara à luz, se outros maiores e contínuos pensamentos lho não estorvaram. Teve muitas vezes testilhas com o cura do seu lugar (que era o homem douto, graduado em Sigüenza) sobre qual tinha sido melhor cavaleiro; se Palmeirim de Inglaterra, ou Amadis de Gaula, Mestre Nicolau, barbeiro do mesmo povo, dizia nenhum chegava ao Cavaleiro do Febo; e que, se algum se lhe podia comparar, eram Dom Galaor, irmão do Amadis de Gaula, o qual era para tudo, e não cavaleiro melindroso nem tão chorão como seu irmão e que em pontos de valentia lhe não ficava atrás.

Comparações & Críticas


Romeu e Julieta é uma tragédia sobre dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra, enquanto em Dom Quixote fala de um homem de certa idade que perde o juízo e decide tornar-se um cavaleiro andante e parte pelo mundo vivendo o seu próprio romance de cavalaria.

Em Romeu e Julieta foi usada um estrutura dramática nos efeitos de gênero como a comutação entre comédia e tragédia para aumentar a tensão e para embelezar a história.

Em Dom Quixote o conflito surge do confronto entre o passado e o presente, o ideal e o real e o ideal e o social.

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