quarta-feira, 29 de junho de 2011

                              O Juiz de Paz na Roça                             

Obra de : Martins Pena (1815-1848)

Cena IV

Entra Manuel João com uma enxada no ombro, vestido de calças de ganga (tecido grosseiro de algodão) azul, com uma das pernas arregaçada, japona de baeta (tecido felpudo de lã) azul e descalço. Acompanha-o um negro com um cesto na cabeça e uma enxada no ombro, vestido de camisa e calça de algodão.
Aninha - Abença, meu pai.
Manuel João - Adeus, rapariga. Aonde está tua mãe?
Aninha - Está lá dentro preparando a jacuba (bebida preparada com agua, farinha e açúcar).
Manuel João - Vai dizer que traga, pois estou com muito calor. (Aninha sai. M. João, para o negro:) Olá, Agostinho, leva estas enxadas lá para dentro e vai botar este café no sol. (O preto sai. Manuel João senta-se.) Estou que não posso comigo; tenho trabalhado como um burro!

                                          Mentira                                            

Obra de : Alexandre França

(...)
Jacques-Louis A – por que tudo é uma mentira, você não percebe...você é uma mentira, eu sou uma mentira...apenas o que não é falado, seja com imagens, sons, palavras, só o que não é falado pode ser verdade...

Charlotte B – eu sei é que muita gente está morrendo por causa disto...

Jacques-Louis A – por causa de uma mentira...

Autor B - Irônica

Charlotte A – isto!

Jacques-Louis B – e você quer que eu convença as pessoas a não se matarem com uma outra mentira, outra “obra de arte”?

Charlotte B – eu não estou falando de mentiras...

Jacques-Louis A – está falando do que então?

Charlotte A – da sensibilidade artística...

Jacques-Louis B –Mentira!

Charlotte B – da profundidade artística...

Jacques-Louis A – Mentira!

Charlotte A – da verdade que existe nisto tudo...

Jacques-Louis B e A – Mentira, mentira, mentira!

Charlotte B – e o que é a verdade então?

Autor A – Pausa longa. Jacques-Louis pensa a respeito.

Jacques-Louis B – a senhora sabe do bando de miseráveis que clamavam por comida antes de se instalar a revolução?

Autor B – Entra uma música comovente
(...) 

                              Comparações & Críticas                               

Sobre " O juiz de Paz na Roça"...A peça passa-se na roça e aborda com humor o jeito particular de ser da gente roceira do Brasil do século XIX, focando as cenas em torno de uma família da roça e do cotidiano de um juiz de paz neste ambiente e explorando uma série de situações em que transbordam a simplicidade e inocência daquelas pessoas.
Na comédia, o juiz de paz é um pequeno corrupto que usa a autoridade e inteligência para lidar (e suportar) com a absurda inocência dos roceiros, que lhe trazem os mais cômicos casos. O escrivão aparece como servo mais próximo do juiz e viabiliza suas ordens; no entanto, não é intencionalmente corrupto e chega a surpreender-se com algumas decisões de seu superior. A família de Manoel João (incluindo o negro Agostinho) mais José da Fonseca formam o núcleo mais importante da peça. Os outros personagens são roceiros que servem para apresentar ao juiz de paz as esdrúxulas situações que ele deve resolver.

Sobre "Mentira"... “Mentira!” coloca no palco o encontro fictício entre dois personagens históricos da revolução francesa: o pintor Jacques-Louis David, considerado o “Robespierre do pincel”, e Charlotte Corday, membro do partido Girondino e assassina de Jean Paul Marat (um dos articuladores da revolução).

Enquanto a peça de Martins Pena trata do tema de uma forma completamente formal, mas ainda sim engraçado, por ser um Testo do Romantismo, Mentira, que já é do Modernismo, trata do seu tema (que se parece até um pouco com a peça de Martins) de um jeito mais moderno, com um jeito menos formal e mais simples de se entender.

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